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Entrevista com Professor Eduardo Gomes

  • Foto do escritor: CACHAPANDO
    CACHAPANDO
  • 6 de mar. de 2018
  • 6 min de leitura

Nessa entrevista você vai ficar por dentro da trajetória do Profº Eduardo, sobre o seu processo de ingresso na fundação e o real poder do "fazer história". Uma entrevista rica e esclarecedora, que manifesta ainda mais o interesse no campo na licenciatura.


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1. No início da sua graduação, em 2005, como foi o processo de acolhida e o seu primeiro contato com a fundação (FUNESO)?


Eu sempre fui apaixonado pela História, mesmo antes de ingressar no curso superior já dava aulas como voluntário em cursinhos pré-vestibulares, tinha o conhecimento prático da coisa, mas me faltava base teórica e científica. Quando ingressei no curso, eu já sabia que queria ser professor, pode parecer óbvio isso, mas muitos graduandos optam pelo bacharelado na expectativa de seguirem carreira na pesquisa.


No meu caso, optei pela Licenciatura, pois era um desejo antigo meu. Ao ingressar na Faculdade, logo no primeiro dia de aula, tive o primeiro contato com a disciplina de Metodologia Científica, que até então não tinha a mínima noção. Para mim foi um choque, pois descobri subitamente que não sabia de nada e isso me deixou inseguro nas primeiras aulas, minha maior aptidão aquela altura era com as disciplinas de História mesmo. Passado o susto inicial, comecei a perceber a importância desta e das demais disciplinas da grade curricular para o processo de formação do professor/historiador, digo isto porque o Curso na Fundação era referência na formação de professores, com uma carga grande das disciplinas pedagógicas.


Minha acolhida foi boa, me entrosei rápido com os demais colegas, na primeira semana de aula o pessoal do Diretório Acadêmico – DA e do Diretório Central dos Estudantes – DCE, fizeram uma ação solidária em substituição ao tradicional trote acadêmico, denominada de "Trote Solidário", onde cada calouro deveria arrecadar alimentos não perecíveis e doá-los a instituições de caridades. Particularmente eu não me envolvi diretamente no movimento estudantil, pois eu já trabalhava na época e não tinha tempo para me engajar nas ações, a maioria dos membros do DCE eram vinculados ao PCdoB e faziam papel de militantes políticos. No período de eleições podíamos perceber o clima acirrado entre os candidatos ao Diretório, além de percebermos a luta travada pelas relações de poder logo no início do curso.


2. Quando você percebeu o seu interesse pelos movimentos sociais? Foi algo sempre presente ou seu terreno foi sendo pavimentado dentro da fundação?


Eu comparo o estudante de graduação a um diamante bruto que precisa ser lapidado, e por isso me insiro nesta descrição inicialmente. Na época tive uma professora de História do Brasil que ajudou consideravelmente a despertar meu engajamento político e nas causas sociais chamada Patrícia Peregrino. Foi a partir daí que houve o fortalecimento do meu senso crítico que já era bastante aguçado.


Lembro-me de um episódio onde a coordenação queria nos tirar de uma sala em que a nossa turma já estava acostumada para realocar uma turma de Enfermagem, ela tomou à frente da situação e confrontou a direção para que ficássemos na sala. Esse episódio serviu não só de forma teórica, mas também uma forma de resistência na prática. Antes de entrar no curso eu já me engajava em causas sociais, sobretudo na própria educação, dei aulas de História como voluntário vários anos, ajudando jovens carentes de periferias a se preparar para o Vestibular, na época não havia ainda o ENEM nem o PROUNI e o Vestibular era a única forma dos jovens pobres entrarem nas Universidades Públicas. Utilizávamos espaços emprestados de Igrejas (Paróquias), Escolas Públicas e Associações de bairros para ministrar as aulas, com passar do tempo, consegui organizar meu próprio preparatório em um espaço cedido por uma Escola Estadual, no mesmo formato em que eu era voluntário, com os alunos recebendo as aulas gratuitamente e os professores todos voluntários. Conseguimos formar três turmas e tivemos ótimos resultados, com alunos inclusive passando em Vestibulares concorridos, entrando em concursos públicos como da Polícia Militar por exemplo e um caso de um aluno que passou no ITA. Mesmo depois de quase duas décadas, ainda mantenho contato com alguns deles e com muitos professores que eram voluntários, a maioria eram ainda estudantes de graduação naquele período, atualmente praticamente todos seguiram na carreira docente, com um bom número que deram continuidade ao processo de formação e tornaram-se mestres e doutores inclusive.


3. Você ganhou o prêmio como Professor Inovador no ramo da Educação Indígena, nos conte um pouco sobre esse trabalho, os processos e resultados.


Isso ocorreu a partir de uma inquietação antiga que eu tinha, em tentar fazer algo significativo e que tivesse dentro das minhas possibilidades aos povos tradicionais.

Então juntei o útil ao agradável, a partir da minha experiência adquirida como Professor ministrante de História do Centro de Mídias de Educação do Amazonas, onde ocorrem aulas ao vivo diariamente, transmitidas a partir dos estúdios que ficam dentro da sede da Secretaria de Educação do Amazonas. Eu tinha alguns materiais organizados e autorais (Livros) que já havia lançado de forma impressa e em e-book, mas que pelas especificidades e dimensões continentais do Estado do Amazonas, não chegava as comunidades e municípios mais distantes. Como também eu era Professor de História do Município de Manaus (Prefeitura), aproveitei a oportunidade da abertura do Edital para concorrer ao Prêmio de Professor Inovador, uma iniciativa da Câmara Municipal de Manaus, sob os auspícios da Professora Terezinha Ruiz.


Em seguida, procurei a gerente do setor de tecnologia de mídias digitais da Seduc, a Sabrina Araújo e renunciei aos direitos autorias das minhas obras para que elas pudessem ser socializadas a partir da Plataforma Saber Mais,uma Plataforma que tem o objetivo de disponibilizar materiais aos alunos e professores atendidos pelo Ensino mediado por tecnologia da Seduc.


Foi a partir daí que montei o Projeto denominado "Práticas Inovadoras de Ensino: A Plataforma Saber Mais como instrumento de socialização de material didático e paradidático para o ensino e aprendizagem de História da indígena na Amazônia".


Concorri na categoria de História indígena e o Projeto saiu vencedor, fiquei muito feliz com o primeiro lugar conquistado, mas mais feliz ainda em poder socializar as obras para as comunidades indígenas mais distantes. Após as homenagens na Câmera Municipal de Manaus e a disponibilização do material na Plataforma, recebi vários e-mails de alunos e professores me parabenizando pela iniciativa e querendo até adquirir as obras. Pude ter o prazer em ver a felicidade nos olhos de duas professoras que encontrei pessoalmente em um evento de Ciência e Tecnologia realizado na UFAM em 2017, quando as mesmas relataram que utilizam o material em sala de aula e que ele e de grande valia para os povos tradicionais. Trata-se de três livros de caráter acadêmico, didático e paradidático, minha intenção foi tentar aproximar a academia da educação básica e, por conseguinte, promover o acesso desse material aos povos tradicionais.


4. Como historiador, professor e acima de tudo cidadão, você tem sofrido com os descasos do governo atual e suas retiradas de direitos e benefícios. Sabendo da Reforma do Ensino Médio e do quanto isso afeta os alunos e os futuros professores, nos conte um pouco sobre os debates que você tem levantado e sobre as formas de resistência.


Não só apenas eu, mas estas Reformas da maneira como estão sendo impostas à população, retirando direitos adquiridos há anos é um enorme retrocesso social. A esse respeito, tem até uma outra entrevista que concedi recentemente para o Programa Conexão Acadêmica da Faculdade Boas Novas, onde abordo a questão da Reforma do Ensino Médio.


Em sala de aula estou procurando fomentar esses debates, a propaganda governamental em certos casos assemelha-se à propaganda feita por Joseph Goebbels (o marqueteiro de Hitler), onde entre outras táticas ele afirmara que: "Fazer ressonar os boatos até se transformarem em notícias sendo estas replicadas pela imprensa oficial". O governo pratica o mesmo jogo sujo, vendendo a ideia de "avanço" e "modernização", porém de goela abaixo, sem a necessária discussão com a sociedade civil e a comunidade escolar.


O que deveria ter sido feito eram discussões prévias com os Conselhos Estaduais de Educação, Ministério Público Federal e Estadual, Audiências Públicas nas Assembleias Legislativas Estaduais e Câmaras Municipais, entre outras medidas cabíveis.

Existem alguns pontos da Reforma do Ensino médio que eu discordo veementemente, como no caso da não obrigatoriedade da oferta das disciplinas de Sociologia e Filosofia por exemplo, com isso estamos retrocedendo décadas e a atitude arbitrária se compara ao que houve na época do governo civil-militar.


Outro erro grotesco, refere-se a retirada compulsória da Língua Espanhola do currículo, chega a ser surreal um país que faz fronteira com outros países que falam o espanhol, como no caso de Roraima com a Venezuela, o Amazonas com a Colômbia e a parte Sul do pais com Uruguai e Argentina, só para citar alguns exemplos, fazer a retirado desse idioma do currículo.


Por outro lado, a Reforma da Previdência é perversa, agride os mais pobres e mantém os privilégios dos mais ricos, se a intenção do Governo Federal era tentar diminuir o suposto déficit previdenciário, então por que deixar de fora a própria classe política e os militares? Por que perdoam dívidas de banqueiros, empresários e agentes do agronegócio?


A resposta é que para manter os privilégios dessas categorias o sangue do trabalhador, do operário, o meu e o seu (na visão desse desgoverno) deve ser "sacrificado".


Portanto, resistir é preciso, mais existem diversas formas de resistência, como afirmara Antoine Prost, "Social e Cultura são indissociáveis".



Maria Paula Pinheiro

mpspufam@gmail.com



 
 
 

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