O AUTOR -Marc Bloch
- CACHAPANDO
- 6 de mar. de 2018
- 4 min de leitura

Nota de apresentação da coluna O Autor
A proposta da coluna O Autor é se utilizar de um pequeno espaço no jornal para promover o conhecimento de alguns historiadores considerados clássicos no cânone historiográfico e que nos acompanharão – enquanto acadêmicos de História- em diversos momentos de nossa jornada. Com objetivos apenas de apresentação, a coluna tem um caráter breve, apresentando aspectos biográficos dos historiadores para em seguida adentrar no legado das obras produzidas e alguns conceitos de maior conhecimento geral presentes nas obras. A frequência das publicações acompanhará o ritmo quinzenal do jornal.
Aproveitando o clima de recepção dos calouros, nós do CACHA de Pandora optamos por iniciar com o historiador Marc Bloch, devido a sua importante contribuição para uma reflexão atenta à um método de análise histórica crítica e na revista Annales, que caracterizou um importante movimento historiográfico no século XX.
Biografia
Nascido na França, em Lyon, no dia 6 de julho de 1886, Marc Léopold Benjamim Bloch era de família judia tradicional, sendo seu pai, Gustave Bloch (1848-1923), professor na Sorbonne, especialista em Roma Antiga, que adquiriu grande renome. Estudou na Escola Normal Superior que, desde 1904, passou a integrar a Universidade. Tendo concluído seu curso em 1908 e com 22 anos de idade, seguiu a carreira do magistério. A Primeira Guerra Mundial foi um período em que sua pesquisa desacelerou, já que serviu seu país nas forças armadas. Em 1921 pode defender sua tese de doutorado intitulada Reis e Servos. Com esta obra começou a traçar o caminho que o levaria a tornar-se o principal estudioso da sociedade feudal no século XX, matéria na qual promoveu uma verdadeira revolução.
Após a Primeira Guerra Mundial, a carreira de Marc Bloch se desenvolve com mais potência. Ao ingressar na Universidade de Estrasburgo, conheceu Lucien Febvre, um colega com o qual trabalharia e juntos marcariam profundamente a historiografia. Os dois fundaram, em 1929, a revista Annales d’Histoire Économique et Sociale, que é um referencial de influência para muitos Historiadores até hoje e foi fundamental para o desenvolvimento das chamadas Nova História e História das Mentalidades.
Em 1936, sucedeu a Henri Hauser na cadeira de História Económica da Sorbonne. A revista conheceu sucesso mundial, dando origem à chamada Escola dos Annales. Em 1939, a guerra tomou conta da Europa novamente e os nazistas invadiram a França. Marc Bloch chegou a militar na resistência francesa, mas foi capturado e torturado pela Gestapo, acabando morto por fuzilamento no dia 16 de junho de 1944.
Obra
Seu último livro - Apologia da História ou O Ofício do Historiador - escrito enquanto Bloch era prisioneiro e inacabado, tornou-se uma leitura obrigatória aos historiadores por condensar as primeiras ideias da Escola dos Annales. Composto por cinco capítulos, sendo o último interrompido, o texto lança as bases do que será discutido pela história ao longo do século XX no que se refere à pesquisa histórica propriamente dita. De forma resumida o livro se debruça a desconstruir a escola historiográfica anterior – os Metódicos, que chamam de positivistas – para propor um novo método para os historiadores. Buscando a interdisciplinaridade e um diálogo com as Ciências Sociais, a sua perspectiva metodológica visa ampliar a problematização, aliando a outras áreas do conhecimento para se chegar a um saber racional e cientifico – Marc Bloch, assim como os historiadores metódicos, não renunciou a História enquanto ciência.
Bloch discute no seu texto, dentre outros pontos, as relações entre o historiador e as fontes, que na linguagem de Bloch vemos como “testemunhos”, que para ele devem ser pensados dentro do debate sobre tempo histórico. Para Marc Bloch o passado em si não se modifica, em contrapartida “o conhecimento do passado é uma coisa em progresso, que incessantemente se transforma e aperfeiçoa”. (Bloch, 2002, p. 75). Bloch defende uma postura diferenciada frente às fontes. Para ele, estas não podem ‘falar por si’, por isso o historiador não pode se contentar em apenas registrar, “mas, a partir do momento em que não nos resignamos mais a registrar [pura e] simplesmente as palavras de nossas testemunhas, a partir do momento em que tencionamos faze-las falar [, mesmo a contragosto], mais do que nunca se impõe um questionário. Esta é com efeito a primeira necessidade de qualquer pesquisa histórica bem conduzida”. (Bloch, 2002, p. 78).
De acordo com Bloch, “mesmo os aparentemente mais claros e complacentes, não falam senão quando sabemos interroga-los”. (Bloch, 2002, p.79). Além do posicionamento de método na análise das fontes, há uma defesa da ampliação da gama de atuações do historiador, bem como da própria noção de fonte histórica, pois “a diversidade dos testemunhos históricos é quase infinita. Tudo que o homem diz ou escreve, tudo que fabrica, que toca pode e deve informar sobre ele” (Bloch, 2002, p.80). Esta nova história francesa que se revitaliza a cada geração de historiadores revolucionou o fazer histórico ao estabelecer uma crítica a noção de documento enquanto depositário da “Verdade”.
A obra de Bloch deve ser compreendida também a partir de seu contexto particular. As Grandes Guerras, vivenciadas por Bloch, tiveram grande impacto na sua percepção histórica. A crítica direcionada à historiografia que elencava narrativas de heróis e das nações como fundamentos essencialistas da história pode ser encarada como resultado da crise pela qual passava a própria civilização ocidental a partir do século XX. O sentido da história proposto pela ideia positiva de progresso era colocado em questão juntamente com sua universalidade.
Fontes:
GASPARETTO JUNIOR, Antonio. Marc Bloch. Disponível em: <https://www.infoescola.com/biografias/marc-bloch/>. Acesso em: 18 de fevereiro de 2018
BENTIVOGLIO, Julio; LOPES, Marcos Antônio (orgs.). A constituição da História como ciência: de Ranke a Braudel. Petrópolis: Vozes, 2013.
PARADA, Maurício (org.). Os historiadores: clássicos da história. Vol. 2: de Tocqueville a Thompson. Petrópolis, RJ: Vozes: PUC-Rio, 2013
BLOCH, Marc. Apologia da história. Ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001
Roberval Júnior
jr_roberval@hotmail.com
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