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A Educação de Jovens e Adultos (EJA).

  • Foto do escritor: CACHAPANDO
    CACHAPANDO
  • 1 de abr. de 2018
  • 7 min de leitura

Atualizado: 4 de abr. de 2018

O que os discentes acadêmicos pensam sobre essa modalidade de ensino?

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Imagem da internet


Retomar os estudos numa certa “altura do jogo” é difícil para muitas pessoas mundo afora e é por isso que a segunda edição do jornal CACHA DE PANDORA abre espaço para discutir esse assunto. Bom, existe uma modalidade de ensino, atualmente, que se chama Educação de Jovens e Adultos (EJA) e que é responsável por atender às necessidades de pessoas que de alguma forma não tiveram chances de estudar no tempo devido. A partir daí começa nossa análise sobre o tema, pois existem “fatores obstáculos” totalmente ligados a outras causas que impedem, de certa forma, o progresso educacional do país. E mais, tais obstáculos poderiam ser inexistentes caso houvessem prioridades para educação, tanto da parte governamental quanto da parte das pessoas comuns que dependem da educação pública ou não.


1) Qual é a sua opinião sobre a modalidade de Ensino para a educação de Jovens e Adultos (EJA)? Para você, ela é valorizada ou desvalorizada? Há alguém que você conheça que já participou dessa modalidade? Para você, é preciso haver EJA?

“A meu ver ela é bastante desvalorizada; Conheço uma pessoa; Sim, pois há pessoas que não tiveram ou puderam continuar no ensino regular”. Iamilly Silva (Aluna do curso de Licenciatura em História – UFAM).


2) Na Universidade, a presença de pessoas de mais idade cursando cursos de graduação é quase insignificante, se comparado ao número de alunos jovens ou muito jovens. Para você, esse fato é causado pela deficiência na educação pública ou significa uma questão de particularidades, ou melhor, meritocracias?

“É questão de meritocracia”. Iamilly Silva (Aluna do curso de Licenciatura em História – UFAM).

“É uma deficiência na educação pública, apesar de ser pública não significa que todos tenham acesso”. Lucy Gusmão (Aluna do curso de Licenciatura em História – UFAM).


3) Para você, qualquer pessoa de terceira idade que decida voltar a estudar e que opte pelo EJA terá a mesma oportunidade de alunos que cursam o ensino regular? Essas pessoas, de alguma forma, possuirão dificuldades no aprendizado? (Pois muitas delas trabalham e estudam ao mesmo tempo).

“Sim, pois o assunto é dado de maneira superficial”. Sem falar que muitos deles, por conta do trabalho, não conseguem se dedicar totalmente. Iamilly Silva (Aluna do curso de Licenciatura em História – UFAM).

4) Como deve agir, na sua opinião, o professor que opta em lecionar na Educação de Jovens e Adultos?

“Ter sensibilidade e percepção as dificuldades dos alunos”. Iamilly Silva (Aluna do curso de Licenciatura em História – UFAM).

“Deve agir como alguém que compreenda a diversidade, ele deve tentar abranger todos, tornar a aprendizagem acessível a todos”. Lucy Gusmão (Aluna do curso de Licenciatura em História – UFAM


5) Na sua opinião, quais seriam as saídas para uma melhora nessa modalidade de Ensino?

“Não sei opinar”. Iamilly Silva (Aluna do curso de Licenciatura em História – UFAM).


Como diria Paulo Freire em seu livro PEDAGOGIA DA AUTONOMIA, cuja leitura para os estudantes de licenciatura é essencial, pois lá se encontra uma crítica à nova ética que é disseminada no ensino contemporâneo designada “ética de mercado”, ou do neoliberalismo, que ofusca o real sentido de se formar cidadãos para, apenas, atingir metas quanto ao mercado de trabalho. Freire lembraria que a essência da educação deveria ser formar pessoas autônomas, capazes de pensar por si, e que a partir de cada uma fosse possível transformar o ciclo que as contivessem, levando a educação ser uma fonte libertadora. Pensar a educação do modo como Freire pensou é um ato político. E de tal importância, pois a educação sempre foi refém dos interesses políticos no Brasil. (Lembrando que esse pensamento só veio ganhar força nos princípios da República). Educação, antes disso, era apenas para tornar culto certo grupo limitado de pessoas aos padrões intelectuais da Europa.



Daí, podemos concluir que: Saberemos mais sobre as faltas de compromisso com a educação estudando a história da educação, pois é um caso grave e histórico. O descaso veio serpenteando até os dias atuais, e não amenizou, apenas se reconfigurou para os “novos tempos”.



O que pensam as pessoas sobre aqueles que tentam retomar os estudos? Pessoas que já estão com idade considerada avançada para os padrões sociais? Não podemos ser hipócritas e dizer que está tudo bem, pois não está! Nunca esteve! Vamos aos fatos: 1º Pessoas que retomam os estudos, geralmente, é porque não tiveram a chance de estudar no tempo devido, e há motivos GRAVES para isso; 2º O nosso país nunca priorizou a educação, muito menos a modalidade EJA (educação, no Brasil, é gasto, não investimento) e é desinteressante para os governantes alfabetizar pessoas que poderiam cair melhor como massa de manobra; 3º Para tocar os estudos novamente, é preciso ter tempo e disponibilidade, e isso as pessoas que ali se enquadram não têm, por diversos motivos.



Pessoas que frequentam tais locais (centros de EJA) são, generalizadamente, tratados como a “nata do leite”, os marginalizados, baderneiros, perdidos e não merecedores de qualquer tipo de mobilização. Pelo que se percebe, em suma, é que tais pessoas, homens e mulheres de bem, mas desfavorecidos, estão rebuscando uma luz para suas vidas, na educação, mesmo com toda essa carga negativa de discriminação. E apoiamos totalmente essa força de vontade, pois esse querer representa uma quebra de grilhões que caracterizam a história do nosso país. Nosso país é escravista ainda hoje! E as pessoas que não tem certo grau de escolaridade são o combustível para tal situação.



Verdade que precisa ser mudada, pois não podemos, a vida toda, culpar o analfabetismo pelo regresso, pela acomodação. Mas entender que estes são frutos de uma realidade injusta, da desigualdade e do descaso proposital.



A história da Educação no Brasil é marcada por gritos e vozes de pessoas tidas como marginais, insignificantes e que lutaram por aprender o mínimo que fosse para levarem uma vida melhor. Mas não é de sempre que se teve um olhar de esperança pela educação; antes do surgimento da república, a educação não era vista como um meio de mobilidade social, e por isso, as elites se apropriavam do sistema de ensino, determinando o rumo das pessoas que ficavam “bestializadas” perante tudo o que acontecia. Isso não significava que eram analfabetas de forma crassa, mas que não detinham o mesmo conhecimento da elite (aquele de regras e normas europeias), e que por isso não tinham poderes em suas mãos. Por que poderes? Porque quem conhece, quem realmente sabe, pode entender o porquê da sua situação enquanto indivíduo; Desde que os jesuítas foram expulsos por Marquês de Pombal e a educação ficou a cargo do Estado, o caráter elitizador da educação, no Brasil, começou. E de fora ficaram todos aqueles que não eram membros da nobreza, os que não tinham sangue real/azul/europeu, e não eram brancos e civilizados.



Não querendo afirmar que os excluídos não tivessem conhecimentos, mas que não tinham aqueles conhecimentos formais, ditados pelos europeus imperialistas, e acabavam ficando à margem da sociedade. Isso é o sistema! Ficar fora do sistema é sinônimo de exclusão, inexistência! Bom, só depois do contexto republicano é que a educação caminhou a passos de formiga em direção a uma melhora, pois a partir dali a educação passou a ser vista como formadora de opiniões, através dela é que se poderia modelar cidadãos, pessoas pensantes e críticas. Que fossem capazes de questionar o poder, de questionar a normalidade. Isso num contexto geral da educação, pois os movimentos que representavam os retardatários só veio a tomar força depois das concepções de Freire e sua nova proposta pedagógica para a educação desses adultos ansiosos em mudarem suas vidas através da educação.



Antes dele, os movimentos de alfabetização de adultos no país eram poucos, e os que haviam misturavam crianças e adultos num mesmo tratamento pedagógico. Isso gerava desconforto para quem queria retornar às salas de aula, pois eram tratados como “crianças velhas” e viravam motivos de vergonha, o que gerava grande evasão. Depois de Freire, e com sua revolução de Angicos*, pôde se esclarecer que os adultos e jovens retardatários precisavam, portanto, de um tratamento diferenciado, que levasse em conta suas experiências e vida e suas realidades próximas, e que partir delas, pudesse ser construído o saber. Além disso, a alfabetização precisaria fazer elo com a sociedade. Como, na maioria das vezes, eram os adultos operários, precisariam adquirir saberes que relacionassem seus ambientes de trabalho, para que a partir do prévio saber sobre suas realidades fosse consumada a alfabetização deles.


*Revolução de Angicos: É, foi essa a expressão utilizada na época para descrever o que estava acontecendo na pequena cidade do interior do Rio Grande do Norte. Essa revolução “de verdade, séria e bem organizada” foi realizada por Paulo Freire. Ele elaborou uma proposta de alfabetização de adultos conscientizadora, encarando o educando como sujeito da aprendizagem. Propunha uma ação educativa que valorizasse a cultura dos alfabetizandos como ponto de partida para tomada de consciência de sua importância como sujeito histórico.



Esse método ficou conhecido como método Paulo Freire (apesar de em diversos momentos ele mesmo falar que não é um método). O espaço educativo proposto por Paulo Freire era mediado pelo diálogo entre educandos e a realidade, entre educandos e educandos e entre educandos e educadores por meio dos círculos de debates.

A Revolução de Angicos, iniciada por Paulo Freire tencionou mais: seu sonho, que se tornou realidade, transformou e transforma a vida de milhares de pessoas que tomam consciência de si. Com “tijolos”, “enxadas”, “campos” e “sofrimento”, entre dezenas de palavras do universo temático dos trabalhadores expropriados de sua própria consciência, Freire abriu espaço para a renovação e a liberdade da opressão. Desbancou, por meio de sua revolução com o lápis, as elites e séculos de dominação. Essa revolução foi registrada visualmente por meio de um vídeo produzido em 1943 conhecido como “As Quarenta Horas de Angicos”. Ele está disponível no Portal dos Fóruns EJA.


Vinícius Gomes Amador


 
 
 

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